sábado, 2 de junho de 2007















Na noite de 2 de julho de 1969 o guitarrista dos Rolling Stones se deixou abandonar ou foi abandonado dentro de sua piscina. O filme Stoned, um trocadilho com o termo “doidão” e o nome da banda (além de música dos Stones), defende a tese explorada por três livros de língua inglesa, mais especificamente Who Killed Christopher Robins?, de Terry Rawlings (ex-office boy da gravadora Decca), que acusa o mestre-de-obras Frank Thorogood de ter assassinado o anjo louro. A morte de Brian Jones foi acidente? Assassinato? Um complô? As denúncias apresentadas em Stoned, que estreou no Brasil em fevereiro, podem inclusive suscitar a reabertura do caso na Inglaterra. Quais seriam esses fatos? Por Carlos Lopes






"Paz, paz! Ele não está morto, não está dormindo - apenas despertou do sonho da vida.. " (do poema “Adonais”, de Percy Bysshe Shelley, lido por Mick Jagger no show gratuito do dia 5 de julho de 1969, no Hyde Park, em Londres, após a morte de Brian Jones)






Desvendado o mistério!




“Morto por fatalidade” (conclusão do legista)






A cada ano, o festival de cinema do Rio traz na programação uma boa película sobre rock. Foram exibidos nas mostras anteriores Hedwig – Rock, Amor E Traição, escrito, interpretado e dirigido por John Cameron Mitchell, e Velvet Goldmine, de Todd Haynes. Este ano, os Rolling Stones foram a bola da vez. Para ser mais específico, o alvo foi o guitarrista Brian Jones, anjo louro que se deixou abandonar ou foi abandonado dentro de sua piscina na noite de 2 de julho de 1969.
As causas de sua morte por afogamento nunca foram devidamente apuradas, apesar do exame do médico legista atestar alto estado de embriaguez (segundo o Doutor Milroy, da Universidade de Sheffield, “Mortes por abuso de anfetaminas são raras, mas Jones pode ter se afogado, caso estivesse sob o efeito de álcool e outras drogas”). No início de outubro de 2005, em sessão única à meia-noite, o filme Stoned (primeiramente divulgado como “The Wild and Wycked World of Brian Jones”), do diretor Stephen Wooley (de Backbeat – Os Cinco Rapazes de Liverpool, de 1994) foi exibido para um público impassível. Stoned, um trocadilho com o termo “doidão” e o nome da banda (além de música dos Stones), defende a tese explorada por três livros de língua inglesa, mais especificamente Who Killed Christopher Robins?, de Terry Rawlings (ex-office boy da gravadora Decca), que acusa o mestre-de-obras Frank Thorogood de ter assassinado Brian Jones. Frank, comandante dos três peões que faziam reformas na casa de Jones, confessou esse fato no leito de morte em novembro de 1993 para a enfermeira Janet Lawson (sua ex-amante e também de Tom Keylock, road manager dos Stones, o responsável por ter contratado Thorogood). O próprio Keylock afirma ter ouvido a mesma confissão. Depoimentos de Anna Wohlin (autora do livro The Murder Of Brian Jones), a última namorada (e sueca) do guitarrista confirmam a tese. Antes de trabalhar para Jones, Frank havia feito a reforma na residência do outro guitarrista dos Stones, Keith Richards, em Redlands, mesmo local onde a polícia britânica havia dado uma batida em busca de drogas em fevereiro de 67.De forma um pouco truncada, Stoned narra a trajetória de Brian Jones desde o início da adolescência, os conflitos com os pais (por engravidar sua namoradinha Valerie, de 13 anos, além de gostar de música de negros) passando pelos primeiros ensaios com os Rolling Stones, o sucesso, até a posterior perda de liderança para Jagger e Richards (que o demitiram, juntamente com Charlie Watts, em 8 de junho de 1969, em um domingão). A demissão unilateral motivada pela impossibilidade de Jones entrar nos EUA e pela falta de gana do anjo louro foi selada com um adiantamento de 100 mil libras e a promessa de mais 20 mil por ano.Os atores Leo Gregory como Brian Jones e Paddy Considine como Frank Thorogood são os grandes destaques da película. Os conflitos psicológicos e o abismo social entre os dois, empregador e empregado, são retratados em um crescendo de dependência química e emocional. Segundo o diretor Stephen Wooley, esse relacionamento só poderia ter chegado mesmo ao conhecido desfecho, findando a angústia de ambos no fundo de uma piscina.






Brian Jones, também conhecido por deitar com belas mulheres, projetou em si e nós outros o inferno. Ele gostava de humilhar Frank Thorogood. Frank em troca, abusava de sua confiança. Mas Jones também viveu o inferno. Sua mais famosa amante, a romana e louríssima Anita Pallenberg, tornou-se a grande crise-de-saias do guitarrista. O desgaste do relacionamento entre os dois, teve como estopim a ineficácia de Brian em escrever a trilha sonora do filme (co)estrelado pela loura. Ou falta de vontade, tanto faz. O pau comia feio, literalmente. Escapando das capas dos tablóides, depois da batida policial na casa de Keith Richards, o vocalista dos lábios de borracha e os dois guitarristas (mais o road manager Tom Keylock dirigindo o carro Bentley de Richards, através de duas mil milhas) e suas respectivas concubinas viajaram até o Hotel Minzah, no Marrocos, para espairecer. Keith já estava de olho em Anita, a namorada oficial de Jones. Ciente disso, Brian incentivou a relação “extra-conjugal” dos dois, mas ainda assim deu uns sopapos em Anita porque ela não quis deitar com ele e mais duas mulheres. Enquanto Brian espancava, Richards a tratava com doçura. Assim que Jones foi participar de um ritual com música, sangue e cabras (imortalizado no disco The Pipes of Pan At Jajouka) o restante da banda “picou a mula” (e não as cabras) antes que ele retornasse ao hotel. A saída estratégica pegou (muito) mal na mente paranóica de Jones. O diretor Wooley mostra uma certa “simpatia” (se é possível entender assim) por Frank, retratando o mestre-de-obras como alguém que foi usado por Jones, apesar de ter gostado de viver sobre a aba do guitarrista. Nessa dicotomia, o guitarrista-aliciador-de-mentes foi quem arrastou o mestre-de-obras para o inevitável beco sem saída (ou para o fundo da piscina). Jones é retratado como um demônio testador. Talvez esse ponto de vista seja conseqüência do roteiro e da interpretação do ator Paddy Considine, que alimenta a imagem de um pobre coitado. No livro Who Killed Christopher Robins?, a figura de Frank Thorogood é retratada de forma mais dura. Um aproveitador, que nunca terminava a obra em Cotchford Farm, a casa de Jones; que levava amantes para a mansão e que pegava mais dinheiro do que deveria receber etc. O maligno, na versão cinematográfica, fica mais para Jones do que para Tom Keylock, o sempre citado road manager, outro suspeito em potencial. Como nem tudo são sacos de cimento, houve um pequeno (e pesado) detalhe que fez Jones despedir Frank: a viga de suporte da cozinha despencou do teto, quase acertando a cabeça de sua namorada, Anna Wohlin. A partir daí iniciou-se o penúltimo capítulo da novela com gritos e a cobrança de uma suposta dívida de 8 mil. Essa viga caiu menos de uma semana antes de sua morte. Coincidência?Muito se especulou sobre o afogamento de Brian Jones na quarta-feira, dois de julho de 1969. Entre acidente e premeditação, todos os motivos foram cogitados. A investigação não foi adiante, envolta em uma espécie de acobertamento que pareceu agradar a todos, dos músicos, aos empresários e a polícia. Qualquer prova substancial que surgisse realimentaria o fogo com ingredientes ainda mais incendiários. A análise do legista atribuiu o óbito ao uso de drogas mais a constante crise de asma. Se essa foi a causa exclusiva não se sabe, mas que o processo pode ter sido acelerado com um bom porre e um banho gelado na piscina de uma casa (ainda mais na vila de Hartfield, East Sussex), isso pode, sim. Dizem que houve uma festa na última noite. Outros afirmam que só havia quatro pessoas na casa: Jones; Anna Wohlin, sua namorada sueca; o mestre de obras Frank Thorogood (já demissionário por causa da queda da viga) e sua amante Janet Lawson (a única que não bebeu). Os quatro saíram para tomar um ar fresco. Janet foi a única que não mergulhou. Frank e Jones ficaram a sós na piscina entre 23h15 e 24h. Anita havia subido para falar ao telefone, mas antes notou que Jones estava perturbando Frank, chamando-o de velho e puxando Frank pelas pernas para o fundo. Ambos estavam se estranhando. Um pouco depois, Janet voltou ao jardim e achou o corpo. Os gritos de socorro foram ouvidos por Anita no andar superior. Ao descer percebeu que Frank estava dentro da casa, tremendo e tentando acender um cigarro. Janet não sabia nadar. Anna mergulhou mas o corpo só foi retirado do fundo da piscina por Frank. Tentaram de tudo, mas assim que a polícia chegou às 24h10, Brian já estava morto.